Sebastião dardejado...
Irene, onde você está que não te encontro?!
Oh! Irene, a noite cai
Tudo cai Irene,
Vazaram das minhas veias os segredos que trazia
Vazaram das minhas veias os sonhos que trazia
Vazou das minhas veias até o que não conhecia!
O que não conheço...
Por esses que me lançam
Dardos de ignorância
A mostrar-me dentes tartarados
Por esses que me matam
Esses que amo...
Eu queria que tu fizesses uma prece...
Irene, onde está você que não encontro?
Essa palavra assoviada nos meus ouvidos
Será por Anjo pronunciada,
Enquanto no rio de meu próprio sangue
Miro a noite estrelada
Enquanto escuridão toma meus olhos
E deixa minhas carnes geladas?
Irene és tu, agora eu sei,
Que tem que vir ao meu encontro
E se não viera Irene
Morreria eu ali
Naquele tempo
Em hora ainda não justa
Por que a dor
Quisera Deus não fora suficiente
E eu como um filho seu
Aguardo-te Irene...
Eu sei que vás me cuidar
A tua mão delicada
A paz que paira no teu olhar,
Eu sei Irene
Que és mais que eu
Por que eu aprendi a lutar
E tu
Planta alvas flores
Brancas e perfumadas
Que acalma o mundo e as dores
E há-de também me curar
Irene
Não tenha pressa
Ainda não estou enxágüe
Ainda tenho pensamentos para pensar
Deixa-me eu contemplar o céu nesse dia
Nesse morrer de dia
dia-noite, noite-dia
Decisivo,
Deixa-me eu mirar mais o infinito
E me desdobrar
E entrar por entre aqueles escuros
Onde não tem estrelas a brilhar
Não te importe por agora Irene
Pode descansar,
Teu dia foi pesado
O meu foi castigado
Por mãos que aprendemos a perdoar
No escuro do infinito que vislumbro
Eu entro
E encontro anjos e fadas
Irmãos na mesma dor
Que caíram antes de mim
É um delírio Irene?
Irene podes ouvir?...
Já é a morte a passar sua língua por mim?
Ah, Irene, não tenho medo!
Não tenho lembranças de ter tido medo
Irene
Nem mesmo na hora
Em que as flechas estavam entrando em mim
Penetrando a minha carne
Os meus órgãos
As minhas costelas
O meu peito
Irene
Eu não tive medo
Parecia sempre
Haver um anjo perto de mim...
Eu sei que na hora extrema não estarei sozinho
Se em silêncio eu andei
Agora Irene,
Depois que soube de ti
Por uma voz ciciada que ouvi
Não me importa mais
Quanta dor eu vou sentir
Para morrer
Por que não é a morte
Que define o homem Irene,
Obrigado,
Mas a sua forma de viver.