Tentativa de comunicação a distância
Olhar, há vidas além do muro acinzentado
Saber que existem ruas e árvores lá fora
O vento balança as folhas, e joga os frutos no chão
O vento também espalha as folhas secas e a poeira
Pessoas cortam o espaço com velocidade fugaz
Não olham para trás e nem deixam pegadas no chão
Não existe troca de olhares nem mãos dadas
Pessoas vem e vão, vão e não voltam mais
Ninguém se cruza ou se cumprimenta
Cada qual ocupado em seguir seu caminho
Ocupado até mesmo para me notar furtivamente
Me perceber no muro, curiosa a apreciar
Quem vem e quem vai, e quem não volta mais
As noites tão quentes me levam a espreitar
Além do muro há vidas sem vida, pessoas rasas
Que não deixam pegadas, vão e não voltam mais
Será que existem, de fato, ou são apenas vultos
Sombras de quem se foi num lapso atemporal
De quem não olhou para trás, de quem não voltou mais