O homem mais infeliz da história
Um homem solitário vagava as montanhas,
onde morava um monge.
- Quem é você, peregrino?
- Nisto não há o que saber.
Eu sou uma ausência,
sou uma falta de ser,
sou um ar morto entre as gentes,
uma completa falta de querer,
uma imagem tão vívida quanto pedra,
um cinza opaco e fraco.
Sou a imagem do nada,
minha voz não tem timbre,
meu olhar nada expressa
a não ser um medo fatal.
Meu porte hesita
até em transmitir
minha tíbia incerteza .
Me julgo uma possibilidade inválida.
A verdade não habita em mim.
Meus olhos são secos:
não assimilo que há alma nos outros.
Sou um abismo defunto.
Meu canto é longínquo
e ecoa no vazio.
Em mim nada significa,
nada conta uma história.
- Ora, e quem rezará por sua alma
quando você morrer?
Mas o peregrino nada respondeu
a esta pergunta terrível
e saiu novamente a vagar.
O monge o olhou triste e piedoso.
Havia entre os dois
uma diametral diferença de existência.