SOLIDÃO DA CARTA NÃO LIDA

SOLIDÃO DA CARTA NÃO LIDA

 

Tudo que já escrevi te espera,

E serve para abrandar a solidão,

Que não quer ser uma quimera,

Mas o aconchego de uma paixão.

 

Me sinto como uma represa,

Tão cheia de águas poéticas,

Que aguarda a doce surpresa,

De ter suas portas abertas.

 

Minhas frases são fala e soluço,

Desde quando não vejo a paz,

E a catarse é como eu expulso,

O refluxo de quem só nos trai.

 

Por isso repasso os dias vividos,

Buscando se existe um apenso,

Que tenha algo velho e transcrito,

Mas que sirva de novo contento.

 

Só quero que o linhame desate,

Cada laço que me une ao vento,

Desde quando viver é o embate,

Se alguém sempre joga o lenço.

 

Mesmo assim minha solidão,

Não quer ver linhas sem vida,

Até quando vê triste canção,

Vir no trem da carta não lida.