Poema - O Recanto Dos Suicida
Poema – O Recanto Dos Suicidas
A grande ironia por trás
Da literatura suicida
É que todos os nossos versos
São um ultimo Adeus
Não importa se estamos falando
Sobre politica, sexo, filosofia
Cada um daqueles rabiscos empoeirados
Podem ser os últimos
E no futuro,
Quando lerem estes versos
- Se não formos de fato esquecidos
pelo tempo
De nada saberão
Sobre as nossas enfermidades
Para a história
Os Suicidas sempre serão
Aquele que desistiram
Nunca irão escrever em biografias
As noites em que passamos acordados
Chorando no recanto do nada
Abraçados ao travesseiro
Ou as nossas
Próprias pernas molhadas
Quantos parágrafos
Vão dedicar para as nossas
Noites de insônia
Aos cigarros que tragamos
Ou as drogas que destruíam nossos
corpos mas salvavam as nossas alma
Quem algum dia se importará
Com os abraços que não dei em minha mãe?
Ou das conversas que evitei ter com
O meu pai
Só para não feri-los com as minhas angústias
As manhãs mal dormidas
As idas a academia sem um pingo
De vontade de viver
Mas com as chamas
De um suicida cansado lutando contra
Seus próprios instintos
Quem algum dia irá lembrar
Da nossas declarações de amor?
Dos sonhos nunca realizados
Das vezes em que fomos assombrados
Por uma solidão tão cruel e ambígua
Que mesmo cercados por pessoas
Estávamos sós
Sós..
Como bichos enjaulados
Em mentes insanas e doentias
Para eles
Para aqueles que ficam e nos julgam
Que jogam flores sobre os nossos túmulos
Que rezam para o seu Deus falso e hipócrita
Para estes bastardos
Sempre seremos os suicidas
Aqueles que desistiram
Os covardes e apedeutas
Que queimarão por toda eternidade
No inferno do seu Deus bondoso e cristão
Nós os suicidas
Que caminhamos nossas vidas inteiras
Como lúcifer renegados e excluidos
Julgados como monstros
Enquanto a nossa humanidade
Adoece diante dos seus olhos...
Algum dia,
Serei como um destes suicidas
Aquele que desistiu
Aquele que se acovardou
Aquele que algum dia
Tentou lutar
- Gerson De Rodrigues