Poética dos Suicidas
Poética dos Suicidas
O que me dói
Não é a ideia do suicídio
Mas sim a certeza
De que algum dia eu não irei suportar
Estas feridas
Há talvez uma ironia
Por trás do nascimento de um suicida
Nascemos com a ideia fixa de que
Algum dia iremos tirar nossas vidas
Aquela certeza simplesmente existe
Em nossas mentes
Podemos sorrir, brincar amar...
Mas ela nunca vai embora
É algo que vive em nosso peito
Como uma Poesia que recitamos
Em silencio na calada da noite
Ou um amor que nos feriu
Mas ainda assim flertamos com as
Memórias longínquas dos bons momentos
Passamos nossas vidas inteiras planejando
Elaboramos hipóteses
Escrevendo cartas e poesias
Alguns de nós beijam a morte
Mas falhamos em amá-la
É irônico
Como algo tão natural
Seja muitas vezes um abismo difícil
De se alcançar
A primeira vez que eu me reconheci
Como um suicida eu tinha seis anos de idade
É terrível perceber o quão sórdida e macabra
A mente de uma criança pode se tornar
Quando alguns traumas a visitam muito antes do amor
Ah o amor (...)
Já me apeguei a este sentimento tantas vezes
Mas é uma lástima que os suicidas
Não podem ser amados
E muitos de nós só percebem isso
Após algumas decepções amorosas
É como possuir todo o amor do mundo
Transbordando pela sua alma
Mas compreender que nunca vão
Derramar uma única gota
Em seu infinito oceano (..)
Nós os suicidas vivemos nossas vidas
Esperando o ultimo suspiro
Nossas esperanças são brasas
De uma chama que já se apagou
Nossos sonhos
São poesias apagadas pelo tempo
Nenhum homem
Mulher, Deus ou Filósofo
É capaz de compreender as angustias
De um suicida
Como se não existíssemos
E de fato (...)
Nós não existimos
Nossa passagem pelo mundo
É tão ínfima e insignificante
Que no momento da nossa morte
Quando choram pela nossa partida
Somos sempre lembrados apenas como
‘’ Os suicidas’’
Mas nunca
Pelas nossas dores...
- Gerson De Rodrigues