SILÊNCIOS DA NOITE
SILÊNCIOS DA NOITE
(Uma vida não vivida)
Ouço as vozes da madrugada
Compactuando com os silêncios
Em negras nuvens, contidos
Mas que rugem, incontidos
Eles surgem
Das catacumbas
Descerradas pela noite avançada
E se insurgem
E se projetam, cruéis tormentos
Nas catapultas
Dos meus insones pensamentos
.
Eles me asfixiam de verdades
Que a azáfama do dia ensolarado
Procura ocultar
Eles me convidam, como alarmes
Para inquietantes reflexões,
Eu sei!
Me aproximam daquilo que nunca fui
E nunca serei
Desnudam minhas ilusões
Desmascaram as minhas esperanças
Eles, impiedosos algozes
Se revelam nessas vozes
Emudecidas nos interiores
Reprimidas nos corredores
De uma vida inacabada
De sonhos vãos
Que logo se vão
Para uma vida acabada
Perdida, nula e erradia
De uma existência vazia
Sem absolutamente nada!
.
Nesta hora
Até a minha poesia se evade
Ela, que pensava ser meu baluarte
Se torna tão baldia
.
Delega minha dor para ponteiros
Dos relógios, dos ócios, dos ópios
Clamando para que o tempo me traga
Uma réstia de sono
Para fugir destes silêncios
Desta diuturna aflição
Até o próximo despertar
Sob o incipiente sol
Que restaura e ressuscita
Mais um dia de ilusão
© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves
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17 de julho de 2019