E AGORA?
Eis que sem anunciar
Ela apareceu de súbito
Despida de qualquer previsibilidade.
Eu já não regia mais a esperança
Em nenhuma instância do sonhar
Os sonhos tinham sido guardados
No depósito das resignações.
Reconstruí-me, acreditava eu,
Sob os escombros da desilusão
Sepultara todas as perdas
Todas as mágoas e a dor recorrente
Na cova funda de um abandono.
E no momento em que a pele
Já começara a esculpir as primeiras cicatrizes
Ainda tênues, porém didáticas,
Ela veio a ressurgir
Para, então, se insurgir
Contra o meu pretenso esquecimento.
E agora?
O que faço?
Exumo o passado de caligrafia dolorosa
Na tentativa de reescrever um futuro
Incerto?
Se é encenação,
Conveniente arrependimento tardio
Fora da cronologia de uma reconciliação possível,
Que eu guardara, secretamente,
Em alguma gaveta do coração incorrigível,
Eu não sei!
Só sei que entre dúvidas,
Ingenuidades e devaneios,
Vou escorregando com o solado restaurado
Dos sapatos da credulidade
E me permitindo algum tipo de recidiva,
O suficiente para manter o meu estoque de ilusão preservado,
Necessário em tempos de sobrevivência
Nessas plagas e nessas chagas
De solidão institucionalizada.
© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves
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13 de fevereiro de 2019