Cansado e Só
Cansado e Só
Estou cansado,
Porque estou só.
Estou só,
Porque estou cansado.
Da urgência da vida
maltratada, ferida.
As duas coisas
Se imiscuem
Cada qual a seu tempo
A seu tormento.
Onde uma termina
Outra principia
E vice-versa
E vide o verso.
Pobre sina,
Triste utopia.
Mas mesmo alternando
Andares contíguos
Também caminham colados,
Em passos assíduos,
Cansaço e solidão.
Esbofeteiam-me, com gosto
Com as luvas da minha deserção
A minha face visível
E o que é mais doloroso:
A outra, invisível.
Vejo, prostrado,
De longe, o inacessível.
O parque de diversões alheio,
Está insuportavelmente cheio.
O carrossel
Gira esplendoroso
Rodopia sorrisos
Circulando uma alegria
Do meu déu
Inatingível.
Onde foi que eu perdi nessa história
O ingresso para essa festa giratória?
Em que momento deixei escondidos
Os galopes dos cavalinhos coloridos?
O tempo, rápido voa
Noite que ligeira cai
E a roda gigante da vida
Continua girando sem igual.
Entre a subida e a descida,
Nessa circunferência de metal,
Meu sonho se escoa,
E a existência se esvai
O meu desvalido olhar
Extraviou-se em um ponto
Entre a faca e o punhal
Que sangra, faz chorar
Um insofrível e cruel conto
De triste e funesto final
Já não há começo,
Talvez nem recomeço
Há muito não me reconheço
Pois de tão cansado e sozinho
Nessa dolorosa estrada
Não encontro mais o caminho
Não encontro mais nada.
© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves
02 de junho de 2018