Meu amor é vício
Sob o meu chão de ruínas
A obscuridade da sombra
Nas horas todas do dia
Mora a minha nostalgia
Um riso triste na boca
Um olho velho e cansado
Um bocejo atropelado
Pelo medo de viver
O lusco-fusco da noite
E os rastros do amanhecer
A discussão com a sorte
Tentando driblar a morte
Que não demora já vem
Uma cadeira no alpendre
À espera de ninguém
Os chinelos esquecidos
Os pés descalços, vencidos
Os gestos atrapalhados
A confusão com as palavras
Que não sei pronunciar
Pro lado esquerdo da vida
Sigo o meu caminhar
A alma é derramada
No meio da solidão
Eu, pervagante, caminho
Sem destino ou direção
E vou, estranhamente,
Virando retrato.
Meu tempo é estático
Meu espaço é vazio
Meu amor é vício
E nesse suplício
Sinto medo de ser humano.