Reminiscências
O som do primeiro não
entrou pra história
ficou fulgurante
fincou penetrante
rasgou cortante
cravou garras
nas páginas da memória
O som
do primeiro não
abraço caridade
ombro piedade
ofereceu
amizade compensação
O som do primeiro não
ganhou manchete
virou noticiário
nas páginas da exaltação
O som do primeiro não
altivo
em pedestal social
riu cáustico
debochou satisfeito
ao desfiar rejeição
O som do primeiro não
permanece
acontece
ressurge
assombra
agulhante
recorrente
apavorante
O som do primeiro não
me fez concha
me fez ostra
me fez caramujo
me fez cofre
me fez tartaruga
me fez camaleão
Você passa
passeia
desfila
desliza
dançante
atiçante
estonteante
na passarela do meu olhar
Mudo
mentalmente
admiro
contemplo
rezo
peço
acaricio
praguejo
Tenho tanto a dizer
tenho tanto querer
aspiro fogo viver
sou pássaro
almejo em horizontes
contigo em chamas planar
Porém o som do primeiro não
é cela
é cerca
é gaiola
é fardo
é extintor
O som do primeiro não
alastrou
aumentou
o grau
o nível
de uma timidez
ou será intimidação?
O som do primeiro não
é algema
é barreira
é cassetete
é corrente
O som do primeiro não
é farda
é mordaça
é patente
imperativa
imponente
castrante
mutilante
me impede falar
Oubi Inaê Kibuko, São Mateus - São Paulo/SP, dezembro/2013.