Parçã

Mais um dia num instante se vai

E se esvai no suspiro a vagar

De um olhar que se perde na tarde,

Premente na noite a chegar.

Estranha entre tantos mistérios

A vida por si só lamenta

A essência num dado momento,

Tormento se um pouco sedenta.

Tal sonho que vem depois vai,

Vê-se em cada terçã

Enfim parecendo gostar

Da dor, do sangue, e vã.

E nesses momentos tão sôfregos

Pausamos não no respirar

Mas em cada suspiro em pausa

Esperando o crepúsculo chegar.

Pois, ora, num tempo a passar,

Instante a esperar sua vez

Onde o batimento da dor

Irá, então, se acabar.

Não vejo tal hora passar

Nem sei quando acontecer

Porém feliz maior será

Quando enfim este dia chegar...

Pereço nos dias de luta

Vivendo a cada manhã

Esperando que chegue a noite

Esperando a morte me aceite.

Então, neste louco momento,

Não venham chorar minha ida

Nem ao menos pôr flores no chão

Mas plantem semente em meu leito.

E saibam este vão cidadão

Se alegra por partir sozinho

Deixando a vida que segue,

Seguindo sua direção.

Se lágrimas descem na face

Latentes qual vela a cair

Enxuguem o pranto perdido

E riam ao invés de chorar.

No desejo em vida ficar,

Soubera calado sofrer

Sofrera sabido sentir

À espera da vida findar.