Crepúsculo
As tardes nas sombras por si solitárias
Parecem dizer num sussurro calado
Mas não teu orvalho em meio à aurora,
Nem ao menos chorando tua desventura
Apenas remontam tuas tristes noites...
Porque, num açoite, outrora embriagado
Pelo aroma que exala em teu âmago,
Sozinho em cada pranto escondido
Ouvindo o murmúrio em tuas folhas cair...
Então no outono da vida aflita
O vento sopra a angústia que vem
Depois da chuva que seca, sem cor,
Trazendo consigo o seu sofrimento
No fim de um dia a mais se perder...
Ó, tarde, és lamento porque és passagem
Não mais a beleza das claras manhãs
E nem o calor nos raios do sol,
Apenas o anúncio da noite a chegar
Sem ter ao menos o pobre aconchego
Neste coração contrito e tão só,
Na companhia da solidão
Que traz, em suas lágrimas, muito de si,
Um triste lamento e um pouco de dor...
São as cicatrizes nos vales e montes
Que cantam, num uivo, sua fria sorte?
Então se achegam e tremem e sopram
As folhas nas águas que escorrem do rosto
Na escuridão, no luar seu reflexo
O abandono nos olhos cadentes
Se numa carência deixam só desgosto...
Tu és fuga que deixa a ferida:
Não leves na ida contigo os pedaços
Do coração na penumbra da vida
Mas deixe que cole, embora sofrida,
A esperança perder no horizonte...
Diga, ó tarde, enfim, por que vens,
Cada novo dia tocar nesta vida
Que morre contigo sempre adormecida
Embora insista estar acordada,
Sofrendo no mundo em vã lucidez
A tua loucura dormindo em pranto...