Chuva
São gotas de chuva caindo em minha face
Não sei se de água das nuvens escuras
Ou escorrem em pranto de olhos sofridos,
Na desventura destas amarguras
Mas traz o seu frio e o sofrimento
Se escorre e leva consigo minha vida
Então se esvai e não tem mais volta
Depois que a lágrima verte caída
De um aconchego se achega o silêncio
Trazendo a angústia, mistério e segredo
E faz do encanto a dor mais profunda
Que sente calada e esconde seu medo
E escorre nas folhas, nos galhos, no caule
De minha existência e chega ao chão
Em parte meus sonhos carrega consigo,
Porém não leva minha solidão
E úmido e sôfrego deixa seu caminho
Fazendo lembrar por onde passara
Pois deixa a marca de devastação
Em meu coração que um dia sonhara...
Eu sou o caminho desta direção
Esvai-se nas pedras que são o meu peito
Outrora vivera tão endurecido
Agora ferido, sem rumo, sem jeito
Porque na estrada de meu descaminho
A sofreguidão virou calmaria
Onde agora ando, não corro, não choro
Nos veios que em névoa me achegaria
Então por que cai, se um dia subira
Em úmidos véus por si evaporados
Tal minha esperança que também quisera
Ser mais concreta que sonhos derramados
Porque se condensa em grande volúpia
E se engrandece achando-se forte
Então desaba em frágil soluço
Pois é o meu choro, também minha sorte
Descendo a vida, passando no tempo,
A cada dia, triste, calado,
Vou-me qual chuva, caindo em silêncio
E morro nos mares, sozinho, esquecido