Onde
Onde estão as lembranças do passado
Remoendo a desventura em tua ida
Se insisto em te querer em minha vida
Como louco em meu futuro alvoroçado?
Onde esteve este tempo em minha ausência,
Porque estive em minhas noites te sonhando
Se eram tão reais te vi chorando
As lágrimas clamando tua querência?
Onde em mim estive me escondendo
Porque não senti em mim doendo
O aperto em meu peito que, outrora,
Sorria por te ver, só, indo embora?
Onde estavas, ó lua, me deixaste
Distante de meus prantos declamados
Estando os meus olhos derramados
Nos versos que eram meus, mas tu choraste?
Onde foste, ó meu doce crepúsculo
Se este por-do-sol me pertencia
Enquanto a sua luz em mim ardia
Restou a poesia em vão opúsculo?
Onde, onde estás, amor, te sinto,
Minha ferida porque, ainda aberta,
Esta dor, meu doce absinto,
Cicatriz ‘quanto dor que me aperta?
Onde posso então te encontrar
Se não deixaste ao menos um caminho?
Então te busco ao relento, ao léu, sozinho,
Os teus olhos o meu rumo a me guiar...