Quando não restar mais nada
Quando não restar mais nada
De minha vida relutante enquanto espera
O crepúsculo do dia em vão se esmera
Em seu maior esforço em si cansada
Virá em mim a lembrança do passado
Que é a recompensa desta luta
Embora em si enfado, e enfim reluta
Em ter que abandonar este legado...
Quando não restar mais nada
De todo sofrimento relutante
E nesta calmaria em mim pulsante
O meu coração em vil parada,
Não quererei dizer da desventura
Que então me acompanha nesta vida,
Mas todo sofrimento desta lida
Ter o seu mérito em bravura...
Quando não restar mais nada
Espero poder rir mais que o pranto
Que, derramado, será amargo manto
Em minha face sorrir desenganada
Porque poderei falar de tudo,
Das boas e ruins cousas que foram
O meu alento, calmo, louco, e sejam
Aquelas que gritaram, mesmo mudo...
Quando não restar mais nada
Não quero lamentar o que eu fora
Também não maldizer o que devera
Ser, então me apraz o que me agrada
Pois nas recordações em mim presentes
Apenas quererei ser o que pude
E assim neste consolo triste e rude
Saber das alegrias tão ausentes...
Quando não restar mais nada
Ainda assim haverá a esperança
Que são em meus olhos esta herança,
A deixo para ser talvez lembrada
Mas onde estiver eu lembrarei
Do muito que sonhara em vida áurea,
Pois antes terminasse em noite vítrea,
Soubera em doce colo habitarei...
Quando não restar mais nada,
Mais nada,
Mais nada...