Desértico

Hoje há um mormaço estranho

Que proclama ser o pior dos dias.

Uma solidão tão parecida com pedra,

Com espinhos afiados pelo tédio.

Há uma sombra dançando loucamente

Os ventos lentos da morte,

Uma indiscreta descrença

Nos caminhos de sempre.

Se ao menos chovesse, trovejasse, relampejasse,

Teria eu uma distração para além da fuga atroz.

Mas eis aqui um sol tão debochado,

Rindo da minha propensão para paisagens nubladas.

Sempre gostei de estar só e critiquei com entusiasmo

Aqueles que se desesperam ao verem-se consigo mesmos,

Mas hoje mergulhou em mim o espectro

De um lagarto doméstico

Que foi abandonado por um fim de semana eterno.

EDUARDO NEGS CASTRO
Enviado por EDUARDO NEGS CASTRO em 22/09/2011
Código do texto: T3233915