Desértico
Hoje há um mormaço estranho
Que proclama ser o pior dos dias.
Uma solidão tão parecida com pedra,
Com espinhos afiados pelo tédio.
Há uma sombra dançando loucamente
Os ventos lentos da morte,
Uma indiscreta descrença
Nos caminhos de sempre.
Se ao menos chovesse, trovejasse, relampejasse,
Teria eu uma distração para além da fuga atroz.
Mas eis aqui um sol tão debochado,
Rindo da minha propensão para paisagens nubladas.
Sempre gostei de estar só e critiquei com entusiasmo
Aqueles que se desesperam ao verem-se consigo mesmos,
Mas hoje mergulhou em mim o espectro
De um lagarto doméstico
Que foi abandonado por um fim de semana eterno.