Tic Tac

Fito o teto branco,

Pálido e passivo,

Entro em pânico,

Mundo opressivo.

O relógio na parede,

Movimento dos ponteiros,

Tic Tac que me deteve,

Tudo pára, só eu sou passageiro.

Grito preso na garganta,

Quase me engasgo,

Já perdi a esperança,

A matéria é fútil plágio.

Olhar perdido,

Encontrado num hiato,

Humor arredio,

Que dia mais chato.

Os sons do lado de fora,

Silêncio que anuncia tragédia,

Mas o que está dentro de mim que apavora,

A realidade de fora se tornou idiota pilhéria.

Nas horas de solidão,

Onde estão as pessoas,

E nossos eu's de imaginação,

Deserto profundo que nos povoa.

Não leio, não durmo, nada distrai,

As sombras fracas na parede,

Só essa estética obscura me atrai,

Apago a luz diversas vezes.

Mas a luz do sol vem adentrando,

Essa ainda não consigo apagar,

Só dormindo eu a esqueço, por enquanto,

Depois morro e a mato ao não mais olhar.

Os gatos tem sete vidas,

Viver sete vezes esse inferno,

Espiritualista nisso acredita,

Meu caráter é muito mais cético.

Esse frio que faz o ar duro,

A casa é um canto escuro,

Acordado, mas sinto que durmo,

Me defino como estúpído.

Esse relógio que anda,

Mas parece lento,

Tempo que me aprisiona,

Vagaroso sofrimento.

O Tic vem antes,

O Tac demora acompanhar,

Um e outro parecem distantes,

O intervalo longo de angustiar.

Algumas vezes penso,

Que o Tic veio primeiro,

Mas o Tac logo me deixa tenso,

Não existem ordens, só o ponteiro.