Lembranças musicadas
"Salve-se quem puder!"
Fecho os olhos,
Respiro fundo.
Transe profundo...
Vozes eufóricas no trem como "om"
Em minha cabeça.
O corpo sabe.
A mente entende.
A gente esconde.
A mente entende!
Escondida,
Como que por indução.
Sabida.
E, mesmo depois de tanto tempo,
O rosto sente a marca dos dedos
Ardentes sobre a pele.
Vermelhos sobre o branco.
O rosto vira bruscamente com a colisão.
O cabelo tampa a boca como mordaça.
E cobre os olhos como venda.
E o sangue fervilha.
O corpo queima.
E treme febril.
E, mesmo depois de tanto tempo,
O esquecido formiga as costas.
O passado sabe brincar com o presente...
Surpreendente.
O imutável passado...
Com o incomunicável futuro!
E mesmo depois...
Ainda entende.
O tempo...
Não se apaga.
"A primeira vez sempre dói."
Depois... depois.
É uma formiga a andar pelo corpo,
Uma serpente a apertar os braços,
Um crocodilo a abocanhar as costelas...
Como num sonho.
Dói, porque sabe que dói.
Uma sombra da sombra da dor:
O passado.