UMA HORA DE ABSTINÊNCIA
Vinte e três horas e quatro minutos...
Dentro de instantes o dia chegará ao fim
E outro nascerá na transição da noite
Para poder a vida continuar. É assim!
Dentre o sereno que cai
E friamente minha pele cumprimenta.
Há essa angústia que não sai
E no peito só aumenta.
Esse amor que comprime-se...
Aqui, insano por entre os caminhos do coração
Que me faz despencar num abismo...
À sorrir, à chorar numa louca consolação!
Vinte três horas e quinze minutos...
Debalde, perdi o tempo sem perceber
E essa ânsia de onze minutos atrás
Não me abandona e agride sem pena meu ser!
E ela- minha musa, nem sabe...
Assim como todos nem vê...
Essa lágrima manchar a folha
E ao chão impiedosamente padecer!
Eu me contorço e esforço-me
Numa busca qualquer por um motivo que não sei
E sufoco-me... minhas mãos presas à garganta
E esse coração não para, dizendo: - Eu te amei...
Pare coração! Pare e permita-me...
O silêncio que esconde-se no vazio da alma!
Não sussurre mais esse nome, esse amor...
Que levou-me o sorriso, a paz de uma calma!
Vinte e três horas e vinte e seis minutos...
São vinte e dois minutos pensando em ti e chorando
E a poesia desvairando-se do peito
E inundando minha triste vida de pranto!
Queima-me a tez pálida e sem vida,
Descontrolo-me diante de uma simples reflexão
E de repente, abstenho-me...
E uma indiferença nasce quando vejo o coração...
Ele está tão sem forças... tão triste...
Murcho... como uma flor amarelada e desbotada!
Frio, vazio, pobre de sonhos e objetivos...
E gradualmente desfaz-se em pó e aos poucos em nada...
Já tinha visto meu coração assim...
E jurei que não mais aconteceria.
Eu perdi minha alma em mim,
Agora choro de saudade... de melancolia...
Choro e choro... e no soluço esvazio minha dor,
Uma fúria invade-me, sutilmente...
Pelo tempo que não perdoa e não ajuda
E a cada segundo deixa-me mais demente!
Vinte e três horas e quarenta e quatro minutos...
E a droga do relógio dilacera ainda mais...
Abre vagarosamente meu âmago, meu segredo...
Leva-me os princípios e deixa somente este jamais!
Tudo é incerto, há não ser essa imagem...
Misteriosa, acompanhada dos encantos da natureza,
Que não quero mais sonhar, porque sei que é ilusão...
Esse retrato translúcido, quase opaco de tua beleza!
E choro mais ainda...
Aprofundo-me mais dentro de mim.
Perco-me na treva desconhecida
Que mora paralítica aqui!
(Silêncio)
Somente o som do vento...
Zero horas e quatro minutos da madrugada...
Posso enfim dormir...
Pela manhã acordar... e mais nada!
FIM