ESTRANHA SOLIDÃO
a solidão é entranha antes de estranha
porque a solidão é minha, algo que jamais poderei compartilhar
pedem-me equidade neste sentimento
sensação...
como podem? é minha apenas
sou eu quem passo minhas horas no vazio vesicular
entro madrugada a dentro sem um fio de pensamento
e penso, penso, até não ser mais pensar
um delírio roto, escroto e denso
nada de louco, nada romântico
sobre meu altar proibiram-se as facas
sobre meu corpo proibi o amor
o sacrifício não é a morte
é a parte tola da vida que vivemos sem saber
sem conceber alegria, magia ou poesia
escondidos no fosso da letargia
brincando de ogro
mastim que se alimenta de almas
sempre rio, e depois me questiono
quando leio Tolstoi...
tinha lá o conde tantas e tantas almas
eu não tenho nenhuma, sequer a minha
por isto roubo as que encontro
guardo-as no armário de pendurar fantasmas
para que assombrem todos os meus dias
até ser noite novamente, e a estranha solidão
me invadir e suavizar o opróbrio que meu corpo são alimenta
vem o dia, sinto a luz, ouço pássaros
no oitavo andar, que me persegue desde as paralelas
eu ouvia motores e sirenes e buzinas e gemidos,
aqui a cidade desperta no ritmo da mata que se afasta
o que mata? a iniqüidade de alguém achar que pode
dividir minha cama, possuir meu corpo e invadir minha
solidão, a estranha solidão de quem ama...