Conflitos da solidão
Nunca briguei com a solidão, não
Já tirei dela muito proveito, sim
Com ela aprendi uma boa lição
Do que é bom e do que não é pra mim
Mas me disseram que a solidão era má
Que os românticos dela fogem a se esconder
Que pior destino que ela não há
Castigo mais cruel que alguém pode ter
Resolvi me sentar e conversar com ela
Pra saber o que era mentira e o que era verdade
Ela me cantou uma canção tão bela
Que contava-me histórias de sua mocidade
Dizia que tinha sido criada para ajudar
Mas que muitos a entendiam mal
Não enxergavam seu lado salutar
O quanto sua presença limpa o canal
Dizia que sozinhos nascemos
Se temos uma boa entrega, é por sorte
Mas que só conosco vivemos
Do nascimento até o dia da morte
Ninguém vive a vida de dois
Nem sabe como é estar no outro ser
Então ninguém deve deixar pra depois
Por causa de outro o seu próprio viver
Só no silêncio da solidão de si mesmo
Que a gente aprende a lição de ser gente
Que aprendemos a não viver a esmo
E a tocar nossa vida pra frente
Estar sozinho não é problema algum
Problema não é estar, mas sim ser
Cercados do mundo, mas jamais ter um
Coração pra perto do nosso bater
A solidão me pediu licença
Pra pedir às almas compreensão
Pra que aprendam as diferenças
Entre os seus atributos, então
Pra que mudemos as crenças
De que ela é tão vil, tão má
De que ruim como ela não há
Não, diz ela, não é por aí...
Meu destino é lhes ensinar,
Servir de espelho, refletir
Pra que qualquer um possa achar
Um caminho por onde seguir.