A Sombra de Uma Promessa
Ela chorava,
E contemplava a janela
A chuva que caía, fina
Parecia chorar com ela
Algumas gotas depositava
No vidro velho, embaciado
E lágrimas quentes molhavam
O seu olhar, o seu passado
Lembrava o tanto que sofreu,
O sentimento que doou
E se pusera contra família,
Chorou filho, chorou filha
E ainda assim errou.
Avisaram-lhe dos perigos
Das promessas vazias
Sofreram os bons amigos
Os tios, primos, tias
Alguns se foram no pranto
Outros ainda por aí estão
Sofreu cada qual no seu canto
Sofreu pai, sofreu irmão
Enfrentou até a morte,
Mas nem assim desistiu ela,
Nem com muita reza forte,
Nem missa, novena ou vela.
E os anos foram passando
E o erro teceu um véu
Nas tuas pernas se enrolado
Não te deixava ver o céu
E a impedia de ir andando
Que te fazia pedir esmola
Ao carcereiro cruel
Com a chave que te controla
Sempre firme, segurando.
Olha ela para a janela
E vê a si mesma lá
Molhada de chuva e lágrima
Cansada de esperar
Meia vida em conto de espera
Outra meia em choro e revolta
E a vida que passou já era
E o tempo que foi já não volta.
E ali, chora mais um pouco
E vai se recolher cansada
Foge desse mundo louco
E sente-se só e culpada
Olha pra trás, calculando
Quantos anos, passaram depressa
E dorme, embora soluçando
(E acreditando) na velha promessa.