SAPATOS

Meus sapatos carregam meus atos,

Nessas ruas que me ligam a destinos

Às vezes, são acomodados em cantos de saudades

E ficam a me fitar, em meus desatinos,

Como um cão pedindo liberdade...

Quando os calço, minhas armaduras,

Calço minha história de procuras vãs,

Meus tropeços, os bueiros das minhas desventuras,

Os becos dos meus vícios ou do meu afã.

Perderam a cor como perdi sensibilidades.

Envelheceram como os meus sonhos.

Ficaram tortos devido às minhas insalubridades.

Ganharam alguns furos como também disponho.

Não se perdem

Mesmo quando perco a cabeça.

Sabem sempre por onde ir,

Enquanto já nem sei quem sou...

E se flutuo,

Aguardam o impacto da manhã seguinte,

Tarimbados para aguentar a dor.

São a parte que me cabe

Nessa morte em vida.

São os calos que me ardem

Na mesma medida...

E na vida em morte,

Quando mais tarde a tarde me ser finda,

Desprendido do medo ou da fé,

Seguiremos parceiros ainda:

Eu deitado e ele em pé