O TIGRE QUE EM MIM HABITA...

O tigre que em mim habita

perde terreno considerável todo santo dia para a lebre saltitante e temerosa

que, em face do perigo, desvencilha-se sem tardar de toda sorte de azar...

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é incrível que a capacidade de cogitar seja maior que a de atuar, mas não de todo inconcebível

em verdade, nem um pouco

os faróis de um carro na neblina baixa

a densidade pluviométrica das lágrimas

o coaxar anfíbio, o anúncio que antecede o desaguar torrencial

um telefonema

uma mensagem

desliguem os celulares

conectem-se à Lua

o ventilador é um tufão incômodo e irritante

certa vez, apanhei sem saber exato o porquê

e soube perdoar o pai

mas mamãe batia sempre na razão

e não reclamo nem exijo explicações

a sabedoria requer uma pausa

o dedo aponta o caminho mais visível

há um rio poluído onde lançam cadáveres todas as madrugadas

e a vontade de Javé é ressuscitar todas as vítimas de Hiroshima e do Holocausto antes mesmo do Julgamento Final

uma linha reta é o trajeto mais curto entre a Fé e a Incredulidade

a vertigem de um déjà vu iguala-se ao enjoo da gestante e do marinheiro de primeira viagem

a Inquisição é uma espécie de anedota contada por veteranos de guerra e sobreviventes do Katrina

e as bruxas de Salem ainda são procuradas nos salões de festa e nos clubes noturnos

a alma humana requer para si todo tipo de intervenção divina

mas as concupiscências e a infelicidade do gênero são vieses observáveis somente mediante valores intrínsecos àqueles que necessitam de um julgo e de alguém que lhes determine uma rota, um objetivo

seguem anoiteceres e o alarme repete seu showzinho estridente toda 6 da manhã

e o salário não paga a poesia de um pôr-de-sol visto do topo do mundo ao qual pouquíssimos têm acesso

um dia abafado, um solo rachado, o asfalto escaldante, o Saara chuviscando areia e escorpiões

e o veneno circula na rotina desalentadora

as ruas são veias obstruídas, e os homens seguem infartando, as mulheres parindo, os cães revirando o lixo

e cada tiro no morro é um estrondo na cabeça das crianças nas escolas

o acaso revolta-se, os astrônomos desvendam o céu e ninguém desvenda o companheiro mais chegado que se suicidou na noite passada

o juízo que fazem da morte é o desprezo que dão ao sofrimento alheio

o bem mais precioso é o obituário todas as manhãs no rádio, no jornal

e fotos de crianças desconhecidas são reconhecidas em cada esquina sem nunca saber ao certo de onde

a descrição de fatos revela-se impaciente, mas pacientes sucumbem nos leitos de UTI’s

os loucos fogem ao sanatório e alojam-se nas portas das lojas, em matilhas

mas o mais são entre nós acha que pode escalar o Everest sozinho

meu cachorro está surdo, com quase quinze anos

ou mais do que isso

sinto que perderei um companheiro em breve

mas o inseto que acaba de cair no chão do meu quarto não tem idade definida

nem é meu companheiro de longa data

nem por isso justifica-se o ato vil de uma chinelada

as vitrines vendem a perfeição

mas o riso ao telefone da pessoa amada não é comparável em júbilo

a minha noite se desfaz, e sinto necessito escrever-te o mais breve possível

pois o que tenho feito aqui não passa de cogitações sem atuação

drama & tragédia

teatro-encenação de uma vida por se viver

que de observação já estou farto...

s.d.

F H Pupo
Enviado por F H Pupo em 18/03/2025
Reeditado em 19/03/2025
Código do texto: T8288685
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