A Cólera do Criador (Para o espírito que se é senhor de si mesmo)
Eu sou o carrasco oculto da minha carne,
A lâmina invisível que ceifa e consome.
Dentro de mim, os gritos das eras ecoam,
E cada sussurro de dúvida sucumbe ao meu nome.
Ninguém pode esmagar-me mais do que eu mesmo,
Meu calabouço e meu trono são o mesmo lugar.
O abismo que me fita é espelho do que sou,
E nele, aprendi a amar o que ninguém ousa encarar.
Não quero palmas, não careço de acenos.
Meu ombro não se curva para o toque falso.
Eu sou a força que brota do caos interno,
O deus bárbaro que ergue o mundo sem alarde ou salto.
Minha mente é o campo de batalha e o império,
A guerra e a paz, o início e o fim.
Eu domino a fera que ruge sob minha pele,
E faço dela a lâmina que rasga o destino assim.
Sou o senhor dos meus sonhos e pesadelos,
A febre que destrói e a cura que vem depois.
Não temo o mal, pois sou seu reflexo vivo;
Dentro de mim, o inferno e o paraíso têm a mesma voz.
Eu sou a ira que alimenta a vitória eterna,
O fogo que Prometeu roubou, arde em meu peito.
A sabedoria do portador da luz me guia,
E a força ancestral dos homens pulsa no meu leito.
Eu crio meu paraíso em cada palavra dita,
E destruo os mundos tolos dos que ousam me desafiar.
Minha essência é espada e escudo, chama e cinza,
Sou o deus que constrói e o demônio que vem para tomar.
De que serve o mundo que jaz lá fora, inerte,
Se dentro de mim pulsa o caos e a criação?
Eu sou o templo do qual os deuses têm medo,
E o altar onde sacrifico minha dúvida e redenção.
Venham os inimigos, venham os fantasmas,
Cada golpe que dão é uma tocha em minha alma.
Eu existo para ser meu próprio universo,
E na fúria que me guia, encontro minha calma.
Eu sou minha bênção e minha maldição,
A ferida e a mão que sabe como curar.
Meu espírito é a serpente que não teme o fogo,
E meu coração, o punhal que sempre vai brilhar.
Sou meu deus, meu carrasco, meu criador.
Eu sou o fogo eterno, o grito da vitória.
Os céus que eu abro, ninguém pode fechar.
E o inferno que eu ergo, só eu posso reinar.