Foice da Morte (Ao meu pai)
Me doem o vazio e o silêncio do teu quarto
Tua ausência eterna, paterna, e terna
Me tira um pedaço d’alma não mais ser
O filho que vestia o uniforme de pai
Para cuidar-te, do melhor modo que eu sabia
E agora, com a alma cambaleante, de passos tortos
Procuro, entre as vozes dos mortos, ouvir a tua
Dizendo com o olhar que me perdoa
Falando à toa de futebol, um jogo qualquer
Apenas para vencermos o silêncio
E a distância, que fere como corte
Foice da morte, foi-se tua vida
Com uma parte da minha
Como sempre acontece com filhos e pais
E com amores diversos
Universos que não mais se tocam
Para o pranto ínfimo que escorre
Na órbita de meus olhos e se perde
Na órbita das estrelas.