Foice da Morte (Ao meu pai)

Me doem o vazio e o silêncio do teu quarto

Tua ausência eterna, paterna, e terna

Me tira um pedaço d’alma não mais ser

O filho que vestia o uniforme de pai

Para cuidar-te, do melhor modo que eu sabia

E agora, com a alma cambaleante, de passos tortos

Procuro, entre as vozes dos mortos, ouvir a tua

Dizendo com o olhar que me perdoa

Falando à toa de futebol, um jogo qualquer

Apenas para vencermos o silêncio

E a distância, que fere como corte

Foice da morte, foi-se tua vida

Com uma parte da minha

Como sempre acontece com filhos e pais

E com amores diversos

Universos que não mais se tocam

Para o pranto ínfimo que escorre

Na órbita de meus olhos e se perde

Na órbita das estrelas.

Marcelo Simas Pereira
Enviado por Marcelo Simas Pereira em 23/11/2024
Código do texto: T8203803
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