Sobre a Fé
Há uma certa beleza na fé
Crer sem ver, sem ter, sem tocar
apenas crer que se pode voar
que se pode amar e sorrir
Apenas crer que se pode sonhar,
que se pode viver sem fugir,
Crer que se pode descrer sem morrer
por dentro, aos poucos
Crer nos loucos e em sua singela lucidez
Crer na fluidez do rio e dos dias,
e nas pequenas alegrias, dissipadas
na névoa densa que cobre
o que devia ser tão claro
Crer na própria fé sem medo,
sem guardar segredo de quem se é
sem ocultar em uma oração silenciosa
o seu deus, a sua verdade
crer sem ter a pretensão de guardar
em sua crença
que a densa ilusão de sua vaidade
é a Verdade
Crer, criar, sem saber
Sabendo que tudo escapa aos sentidos
e que somos apenas parte
que não se aparta do Todo
Crer de um modo que não fira
que não mate, e não divida
Crer também na morte
Mas sem jamais tolher a Vida.