Sobrevivente de Guerra
Aqui está, sobrevivente de guerra.
Guerra dos seus pensamentos,
guerra das nostalgias.
O que fará o soldado ferido?
Perdido a caminhar pela cidade,
sofrendo pelas feridas abertas
das lembranças que sempre lhe aparecem.
Já não há mais função para ele,
agora é cão velho de combate.
Não há mais empregos,
não há mais mulheres,
não há mais companheiros,
não há mais bares.
Todo seu trabalho lhe cai em esquecimento,
ele observa serenamente,
mesmo estando lá,
ele nunca está lá;
Está em outro lugar,
outro tempo, outro canto.
Outro momento,
outro encanto.
A cidade, de noite brilha sob seus olhos,
ele já foi ferido demais,
já está calejado para com o sofrimento.
O sobrevivente de guerra,
já não mais se encanta com a vida.
Em seu corpo todo, lhe doem,
doem a multidão de feridas.
Principalmente as do coração,
principalmente as da mente.
Quem olha vê um simples vagabundo,
não lhe dão as honrarias pelo seu trabalho.
Sobrevivente de guerra,
antes soldado,
agora solitário.
Ele se perde em pensamentos,
pobre soldado aquele.
Lembra dos antigos combates,
dos antigos rivais,
dos antigos amigos,
até dos inimigos.
Ele lembra dos antigos carros,
dos antigos volantes,
das antigas cantigas,
das antigas amantes.
Se encontra em um mundo diferente,
sequer sabe o porquê de estar ali.
Pobre sobrevivente de guerra,
retorne para a casa,
mas como retornar para algo que já não existe?
Ei, pobre sobrevivente de guerra,
os tempos já não são mais tão felizes.
Perdeu-se o brilho,
a alegria,
as brincadeiras,
as raízes.
Você saiu de uma cidade viva,
retornou e a cidade mudou-se.
Mudou-se de lugar?
As pessoas não parecem mais as mesmas,
sequer parecem pessoas.
Você se lembra das conquistas,
lembra das paredes que ergueu,
ei, sobrevivente de guerra,
velho soldado,
de que isso tudo lhe valeu?
A noite é fria,
perfura seus braços.
Pobre soldado, precisa do calor humano.
Ei sobrevivente,
nem o álcool já lhe faz suficiente,
nem se vê mais sorridente,
não existe mais o imprudente,
já se foram os valentes.
Ei sobrevivente,
quantas medalhas já ganhou?
Pra onde foi o ouro que ostentava ao peito?
Do que toda aquela riqueza lhe adiantou?
Pobre sobrevivente de guerra,
sequer sabe o que procura,
apenas vaga nesta noite escura,
em sua boca uma amargura,
em seu peito uma saudade,
em seus olhos uma lágrima.
Mas vá em frente, sobrevivente,
continue a marchar, jovem soldado,
não parou pelos males antigos,
já aprendeu que não é correto ficar estacionado.
Continue sempre em frente,
dedicado, mesmo não sorridente,
a esperança ainda o percorre,
quem sabe um dia tudo melhore.
Ainda lhe mantém atado ao coração,
velha frase dita uma vez:
“O sol não nasce apenas para um,
para dois, para três,
mas nasce para todos”.