Águas e mágoas mornas. 

 

As mágoas, tais e quais as águas, 

A tudo e a todos encharcam… 

E, sem vazão, as próprias fontes afogam. 

As mágoas em corações vazios, de súbito, embarcam…

Iguais águas que nas cheias, seus efeitos não revogam.

 

As águas em cálidos solos se evaporam,

Nos glaciais congelam e se petrificam…

As mágoas a álgidos âmagos se incorporam,

Nos efervescentes dissolvem e se retificam…

E, nos mornos… invariavelmente, se infiltram e proliferam… 

Assim como pragas que tudo assolam ou danificam,

Nesse resiliente ambiente, as mágoas perseveram…

E quão rapidamente em férteis terrenos se multiplicam!

 

Em herméticos corações, represadas, se enfurecem,

Águas e mágoas quando excedem, o sensato escarnecem. 

A água destrói seu entorno, a mágoa do vingar faz estorno…

Nesses contextos, tantas almas padecem!

Águas e mágoas mornas…  que o tempo não as entorna,

De tantas sangrias carecem!