Cordatos, cordeiros, sensatos

Ao longe, no campo, o soar das trombetas

Das mulheres pretas, de todos os vencidos

Esquecidos pela voz retumbante dos usurpadores

E sequestradores da verdade, ora única e conveniente

Que, silenciosa mente, cala sobre a dor e o pranto

E os santos da igreja da moda prosperam cada vez mais

No tilintar dos metais em seus altares de ouro

Porque o tesouro verdadeiro é o paraíso prometido

Ao José vencido, esquecido, fudido, falido, andrajo

Gajo que fora, quando moço, hoje, caiu no poço

Sem fundo, imundo, da ilusão vendida à sua fé

E no raiar do dia, Seu José, fudido, iludido,

Atravessa a cidade, os vales, montanhas

Façanhas do dia-a-dia, dissipadas na neblina

- assassina da realidade, do mundo rosa de Alice –

Que, disse a moça da novela, e o galã do jornal

É o mundo no qual viveremos, caso dóceis

E aceitemos seus termos, sensatos que somos

Acatemos os donos e soframos em silêncio

Vencidos pelo bem comum dos eleitos por deus

E pelo mérito do destino, sejamos sensatos

Cordatos, cordeiros, ordeiros

Trilhemos o caminho do meio

Que é o esteio da paz, enquanto, no campo, Seu José

Vencido, jaz, sem obituário qualquer

Deixando à mulher e a seu filho, seu lugar

No banco da igreja, e a promessa sagrada

De dignidade no além, enquanto, agora

O filho de Seu José ora

E o mediador de deus implora por mais

Que o vil metal só faz melhorar a vida

Quando ela se fizer morte

Com sorte, sem dor

Marcelo Simas Pereira
Enviado por Marcelo Simas Pereira em 14/01/2024
Reeditado em 15/01/2024
Código do texto: T7976649
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