Cordatos, cordeiros, sensatos
Ao longe, no campo, o soar das trombetas
Das mulheres pretas, de todos os vencidos
Esquecidos pela voz retumbante dos usurpadores
E sequestradores da verdade, ora única e conveniente
Que, silenciosa mente, cala sobre a dor e o pranto
E os santos da igreja da moda prosperam cada vez mais
No tilintar dos metais em seus altares de ouro
Porque o tesouro verdadeiro é o paraíso prometido
Ao José vencido, esquecido, fudido, falido, andrajo
Gajo que fora, quando moço, hoje, caiu no poço
Sem fundo, imundo, da ilusão vendida à sua fé
E no raiar do dia, Seu José, fudido, iludido,
Atravessa a cidade, os vales, montanhas
Façanhas do dia-a-dia, dissipadas na neblina
- assassina da realidade, do mundo rosa de Alice –
Que, disse a moça da novela, e o galã do jornal
É o mundo no qual viveremos, caso dóceis
E aceitemos seus termos, sensatos que somos
Acatemos os donos e soframos em silêncio
Vencidos pelo bem comum dos eleitos por deus
E pelo mérito do destino, sejamos sensatos
Cordatos, cordeiros, ordeiros
Trilhemos o caminho do meio
Que é o esteio da paz, enquanto, no campo, Seu José
Vencido, jaz, sem obituário qualquer
Deixando à mulher e a seu filho, seu lugar
No banco da igreja, e a promessa sagrada
De dignidade no além, enquanto, agora
O filho de Seu José ora
E o mediador de deus implora por mais
Que o vil metal só faz melhorar a vida
Quando ela se fizer morte
Com sorte, sem dor