Vou m'imbora para minha Passarada

Não havia Sol; nem uma gota de raio assolava o ambiente. Repentinamente, o tempo se fechou numa tarde nublada. Nuvens cinzentas estacionavam no ocaso do céu, trazendo consigo ventos minuanos vespertinos que passeavam por entre as folhagens. Vagam lentos e vagarosos.

Veio uma lufada e ao se dispersar, outra pediu passagem, deixando as folhas extasiadas pelo chamado para a dança. E juntinhos, vento atarracado à cintura das folhas, dançaram.

Refresquei-me com o frescor do vento. Sentado nos calcanhares, me coloquei a prosear com o silêncio:

Estou ilhado por matas nativas,

Topo da colina,

D'onde espio tudo.

Aqui, os grilos cricrilam,

Sapos coaxam,

Cobras sibilam,

Águas límpidas e cristalinas pedem passagem,

A Lua namora,

A noite acalenta-a;

O Sol esparrama seus raios,

O dia abraça-os;

Os pássaros cantam,

Ventos assoviam,

Folhagens dançam;

Belo alvorecer,

Magnífico entardecer,

Sopro divino.

Varrido os quintais,

A mente se enche de tanto silêncio,

É sossego e paz em demasia;

Vou para a cidade:

Lá, pneus de carros derretem no asfalto,

Semáforos impõem limites;

Gente rusga,

A bala perdida retruca:

"Aqui, quem manda sou Eu",

D'isto, sempre soube;

Corpos estirados,

São dos bandidos ou dos mocinhos malvados,

Fico assustado;

Insisto em continuar,

Tapo os ouvidos e olhos,

Quem é bicho da paz,

Amigo da terra,

Mesmo perdendo os sentidos,

Ama animais;

E ainda que tenha tudo na cidade,

Joga o que têm para o alto,

Ao lado de ratos, baratas, pulgas, bichos-de-pé,

Patos, galinhas, marrecos, bovinos, pernilongos, equinos, carrapatos,

Bons e fiéis amigos,

Criação de Deus,

Prefere ficar.

Contrária a dos bichos,

Fidelidade e lealdade de gente,

Cais duvidosos,

E num momento qualquer,

À revelia,

A grandiosa embarcação vira Titanic,

Com ou sem vela,

Acende o farol,

Ingratidão se revela.

Não se deve sentir nojo de ser simples,

Honesto,

Humilde;

E por assim,

Ser,

Também não se deve alardear,

Deixar frestas,

Para que espiem,

E levantem rumores.

Sintetizando:

Uma vez que não pertenço a vida,

Também é verdade que a vida não me pertence,

Estando isolado no topo da colina,

De todas as maneiras,

Fujo da morte;

Cuja finalidade é viver,

Enquanto a vida me permitir.

Brilhante ou não,

Vivo a vida,

Que pela morte,

Há de ser vencida.

Mutável Gambiarreiro
Enviado por Mutável Gambiarreiro em 04/01/2024
Reeditado em 06/01/2024
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