Uma negra feliz
Eu já fui a negra feliz
Meu corte Joãozinho
Tão crespo
E tão natural
Lavado a sabão de bola
Ou nem assim
Eu já fui a negra feliz
Meus olhos castanhos luzentes
A pele preta esfumaçada
E tão natural
Lavada a sabão de bola
Ou nem assim
Eu já fui a negra feliz
De lábios carnudos
Nariz arqueado nas abas
E tão natural
Por anos achando ser a cor apenas uma paleta de tons
Por anos sendo tratada pelos meus iguais de jeito desigual
De repente sem mais
Sem dia no tempo
Eu soube:
Sou negra!!!
E pelo meu cabelo
Em conjunto com a minha cor
E de tudo o que sou
Fui todo o tempo
julgada e sentenciada
Eu não poderia ter sido
Essa negra feliz
De posse da descoberta
Fiz da dor a minha luta
O combate a essa ideia
Estapafúrdia
De que uma negra não pode ser feliz