A Espera

O pequeno, de olhos arredondados,

Escuros, frágeis, perdidos e distantes

Como dois planetas áridos

Brinca com as flores murchas

Da lápide de um mártir anônimo

Que dão cores a um apocalipse

E esperança irracional

De que debaixo dos escombros

Ele reencontre a paz no abrigo

Do sorriso de sua mãe

Ele ainda não entende o ódio que sente

Tampouco entende o amor que perdeu

Ele só entende sua tristeza

E a reconhece nos olhos

Dos outros pequenos, que, como ele

Esperam suas mães saírem

Debaixo dos escombros

Exatamente como nos sonhos de cada noite

Mas as bombas caem mais que a chuva

e os sonhos duram pouco

enquanto a loucura humana

destrói a pureza da infância

e semeia um alvorecer sombrio

para o pequeno, de olhos arredondados

que brinca com as flores murchas

da lápide de um mártir anônimo

que um dia também esperou

emergir dos escombros

o abrigo do sorriso de sua mãe

Marcelo Simas Pereira
Enviado por Marcelo Simas Pereira em 25/10/2023
Código do texto: T7916900
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