A Espera
O pequeno, de olhos arredondados,
Escuros, frágeis, perdidos e distantes
Como dois planetas áridos
Brinca com as flores murchas
Da lápide de um mártir anônimo
Que dão cores a um apocalipse
E esperança irracional
De que debaixo dos escombros
Ele reencontre a paz no abrigo
Do sorriso de sua mãe
Ele ainda não entende o ódio que sente
Tampouco entende o amor que perdeu
Ele só entende sua tristeza
E a reconhece nos olhos
Dos outros pequenos, que, como ele
Esperam suas mães saírem
Debaixo dos escombros
Exatamente como nos sonhos de cada noite
Mas as bombas caem mais que a chuva
e os sonhos duram pouco
enquanto a loucura humana
destrói a pureza da infância
e semeia um alvorecer sombrio
para o pequeno, de olhos arredondados
que brinca com as flores murchas
da lápide de um mártir anônimo
que um dia também esperou
emergir dos escombros
o abrigo do sorriso de sua mãe