O tombo do caminhão [2014]
Quando tomba o caminhão
No que se torna o dito “bom cidadão”?
Cada um catando o que lhe couber
Locupleta-se, a arrastar, o que vem às vistas
Ou, pelo menos, a lhe caber às mãos,
Outrora tão honestas, mas agora é hora da festa
“Achado não é roubado”, quem tombou é o relaxado?
Quando cai a vilipendiada louca,
Suspeita de bruxaria, ou por algum desfrute,
Cada cristão zeloso quer dar seu chute
Na cara da “filha do cramunhão”:
– Essa mulher é aquela do Facebook
Vamos aniquilá-la antes que faça um truque!
Morre a mãe de família com a bíblia na mão...
Bem-vindos à terra das frases lindas,
Pessoas fofas e perfeitas que postam fotos bicudas,
O território oficial das Maria-vai-com-as-outras,
O palanque contraditório dos paladinos da justiça,
Espaço dos mal-entendidos, dos caçadores de ateus,
Pelo “santo concílio” individual.
O fake Estado Laico dos matadores "inocentes".
E quando chega o dia do bissexto sufrágio
Voto em todo troço por simpatia,
Ou por folia, faço vizinho de algoz,
Praguejo aos quatro ventos sorrindo
Com os dentes do suborno, ou chinelos da subserviência,
Depois reclamo do meu belo candidato:
– Que ladrão, que incompetência!
Agora vou pra faculdade do Jus cheio de vaidades
Fazendo pose de “comigo ninguém pode”
Pra fazer prova por osmose com as minhas amizades
Vou estudar filosofia, ética e moral que nem sei o conceito,
Mas, pra não passar por ridículo e abestado
Eu já sei de quem vou comprar
A minha tese de mestrado.