Os mais belos poemas que escrevi
Os mais belos poemas que escrevi
habitam no silêncio das linhas em branco
ou escorreram pelo ralo, junto com a água do banho
ou pelas ranhuras das calçadas, com a água das chuvas
os mais belos poemas que escrevi
desceram em alguma estação de trem
ou ficaram a adormecer no chapéu
do homem que dorme em uma caixa de sapatos
os mais belos poemas que escrevi
o fiz em letras disformes, quase ilegíveis
senão para os sentidos humanos, iludidos
com rimas pueris, versos febris, e as dores do mundo
Rotundos manifestos de vazio e impotência
os mais belos poemas que escrevi
se foram na carona de uma brisa
e hoje dançam no ritmo das dunas do Atacama
Renascendo como minúsculos desertos
pois é quase certo que udo se transforma
essa é a norma instituída por Gaia
que raia no horizonte, como lembrança
e a esperança, como astro fulgurante
nasce e morre todos os dias em cada coração
e em cada uni verso de um homem
perdido nos descaminhos sinuosos
de um poema