Os mais belos poemas que escrevi

Os mais belos poemas que escrevi

habitam no silêncio das linhas em branco

ou escorreram pelo ralo, junto com a água do banho

ou pelas ranhuras das calçadas, com a água das chuvas

os mais belos poemas que escrevi

desceram em alguma estação de trem

ou ficaram a adormecer no chapéu

do homem que dorme em uma caixa de sapatos

os mais belos poemas que escrevi

o fiz em letras disformes, quase ilegíveis

senão para os sentidos humanos, iludidos

com rimas pueris, versos febris, e as dores do mundo

Rotundos manifestos de vazio e impotência

os mais belos poemas que escrevi

se foram na carona de uma brisa

e hoje dançam no ritmo das dunas do Atacama

Renascendo como minúsculos desertos

pois é quase certo que udo se transforma

essa é a norma instituída por Gaia

que raia no horizonte, como lembrança

e a esperança, como astro fulgurante

nasce e morre todos os dias em cada coração

e em cada uni verso de um homem

perdido nos descaminhos sinuosos

de um poema

Marcelo Simas Pereira
Enviado por Marcelo Simas Pereira em 03/03/2023
Código do texto: T7732061
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.