Do que não era sonho
Hoje caiu da cama o que era sonho
Acordando-me do que era morte
E o corte me foi tão fundo
Que eu vi que o que era mundo
Era um segundo,, não mais, que um universo
E eu, imerso na ilusão que era sonho o que não era paz
Capaz, não fui, de perceber que estava
Num campo de batalha infinda
Ainda que não houvesse sangue
Nem sempre há sangue nos fins
Nem sempre há vida onde morte não havia
Como nem sempre é dia quando não se chega a noite
A cair da cama profunda de algo que não era sonho
E tampouco poderia se chamar de realidade
Ou morte, o que, verdade, não parecia ser
E o poema, que não pretende nada
Senão dizer que nele não cabem certezas
Só a beleza da dúvida humana
Insana mania de tirar o equilíbrio dos passos
E o rumo definido dos caminhos
e os espinhos das rosas perfeitas
O poema, que mergulha e nada encontra
No mar profundo, do meu eu raso
Se rasga em folhas coloridas pela criança
Sopro de esperança, luz e alívio
De que não era sonho
Era vida, enfim
Pois nos fins, nem sempre há sangue.