SÓ POR ISSO

SÓ POR ISSO

 

Nas voltas do mundo eu sonho,

Nos ecos do vento eu flamejo,

Mas quando acordo eu proponho,

Selar o acordo que almejo.

 

Nos idos de Osíris fui Nilo,

E o Egito teve os seus faraós,

Quando a Pérsia tinha a Ciro,

E Alexandria perdeu seu farol.

 

Desde que Babilônia é estilo,

Só o tigre e eufrates valoram,

Mas o barco fenício é de Tiro,

Sendo Tróia a casa de Apolo.

 

Os conflitos de antes perduram,

Pois os reinos ainda resistem,

Como os tolos teimam e procuram,

Serem Ares, Sansão ou Maciste.

 

Ainda hoje os ogros existem,

E insistem pelas academias,

Sem dispor de beber uisque,

Ou no escárnio e fantasias.

 

Eles nutrem o afago de espinhos,

Eles ladram enquanto devoram,

Mas não sabem do justo caminho,

Onde os sóis ainda vetoram.

 

Hoje eu vivo em um ministério,

Feito na borda de boa galáxia,

Mas o medo nos deixa estéril,

Mesmo quando a vida é fática.

 

Não há causa sem consequência,

Como a fome sem grão nem panela,

Mas o homem que quer indulgência,

Me dá medo de ficar banguela.

 

Quem explora o seu semelhante,

Só me lembra de que sou escravo,

Pois o nobre não vê o semblante,

Mas meu couro curtido no malho.

 

Cada dia que sigo adiante,

Clamo por ter paz e justiça,

Pois eu sou ainda implicante,

Com o que diz meu analista.

 

Só por isso entrego-me louco,

Pois a sanidade é impossível,

Se eles têm ouvidos de mouco,

Ao que grito desde o início.