NO DESERTO
Eu era a pura água e não havia obstáculos que eu não pudesse passar,
Surgia uma grande rocha: eu a contornava,
Surgia um penhasco: eu me debruçava,
Surgia uma pedra: eu com muita insistência, a perfurava.
Mas, o tempo foi passando,
E o calor de minha vivência foi secando
a água do meu Ser.
E, num súbito momento, tornei-me o próprio deserto, sem perceber.
Hoje aqui no deserto vivo a me ludibriar,
Dizendo a mim que o que vejo é água e que nela posso me deleitar.
Mas, conforme vou me aproximando
Vejo que não é água o que estou olhando,
E pelos meus dedos vejo-a escorrer,
Pelos meus dedos, aquela que era tão bela, começa a desaparecer.
E volto a ser o deserto, e nenhuma gota de água em mim eu consigo encontrar,
Mas, continuarei seguindo,
E quiçá eu verei fluindo
a água que me tornará um mar.