NO DESERTO

Eu era a pura água e não havia obstáculos que eu não pudesse passar,

Surgia uma grande rocha: eu a contornava,

Surgia um penhasco: eu me debruçava,

Surgia uma pedra: eu com muita insistência, a perfurava.

Mas, o tempo foi passando,

E o calor de minha vivência foi secando

a água do meu Ser.

E, num súbito momento, tornei-me o próprio deserto, sem perceber.

Hoje aqui no deserto vivo a me ludibriar,

Dizendo a mim que o que vejo é água e que nela posso me deleitar.

Mas, conforme vou me aproximando

Vejo que não é água o que estou olhando,

E pelos meus dedos vejo-a escorrer,

Pelos meus dedos, aquela que era tão bela, começa a desaparecer.

E volto a ser o deserto, e nenhuma gota de água em mim eu consigo encontrar,

Mas, continuarei seguindo,

E quiçá eu verei fluindo

a água que me tornará um mar.

Débora Ananda
Enviado por Débora Ananda em 11/07/2022
Reeditado em 11/07/2022
Código do texto: T7557463
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