O TREM DA ÚLTIMA JORNADA

O TREM DA ÚLTIMA JORNADA

 

O meu caminhar não guarda estórias,

Mas tem o traço impresso das ações,

Nem foi um calendário só de prosas,

Mesmo se o poeta viveu de ilusões.

 

Tróia conviveu sob o Sol de Apolo,

Mas foi ter em Páris uma presunção,

Por ter levado Helena em seu colo,

E não ter respeito por outra nação.

 

Daquela tragédia veio Alexandre,

Reinar sobre a Grécia e bem mais,

Ganhando seu epíteto de "Grande",

Pois ninguém o esqueceu jamais.

 

Com sua falange foi às Índias,

Passando por Babilônia e Pérsia,

Guardou livros e a arte de Fídias,

Fez o Nó lhe cumprir a promessa.

 

Conquistou o mundo conhecido,

Mesmo havendo bem mais por aí,

Fez como lhe propus ao ouvido,

Mesmo quando me disse: e daí!

 

Só por isso não vou contar o resto,

Das histórias que eu testemunhei,

Mas lhes digo que sou mais modesto,

Pois não quis reinar aonde andei.

 

Sou quem se acha igual a todos,

E por isso libertei meu coração,

E hoje sou mais um dentre os tolos,

Que acreditam no amor e no perdão.

 

Devemos trabalhar pra ser feliz,

E não para ter mais do que outrem,

Porque daqui nem levo a cicatriz,

Como também o ouro ganho ontem.

 

Servirá como passagem a Caronte,

Só meus atos e o amor que devotei,

Pois o resto é o pecado na fonte,

Do horror de querer ser um rei.

 

Como os tempos hoje são modernos,

Haverá o trem da última jornada,

Ou a nave que eu vi nos cadernos,

Que restavam na estante do nada.

 

Há quem diga querer ser bilionário,

Mas lhes digo que o Sol é de graça,

Só não diga que roubei seu horário,

Pois a minha eternidade me basta.