ENTRE A PROCELA E A DESDITA

ENTRE A PROCELA E A DESDITA

 

O mundo é mais que uma casa,

Pois é meu nascer e meu luto,

E guarda minha alma em brasa,

Porque só no frio não escuto.

 

Aqui tenho o meu alicerce,

Caucado em vidas passadas,

Que valem o sol que aquece,

E as flores na minha estrada.

 

Enquanto eu viajo só ouço,

Mugidos e pios de bichos,

Ou mesmo o breve soluço,

De um vulcão em esguichos.

 

Foi nessa tocada a viagem,

Que fiz com o corpo em sono,

Voando além das passagens,

Que abrem portais e o sonho.

 

Passei perto da Patagônia,

Mas eu só queria Galápagos,

E ver Fernando de Noronha,

É como ouvir os oráculos.

 

Na busca por mar e beleza,

Eu quero os pés sem espinho,

E ter Pindorama por mesa,

Ao voar nos Andes sozinho.

 

Esse é um papel do eremita,

Ser condor, albatroz ou Batista,

E enfrentar a procela e a desdita,

Com o amor e a voz do artista.