Dos Tempos Idos
Houve um tempo em que o homem
Não se perguntava sobre a natureza dos raios
Não queria saber do Boson de Higs
Nem se perguntava sobre a origem de tudo
Houve um tempo em que o homem
Não queria contar estrelas, galáxias...
Só queria vê-las, e assim, lá chegava
Pelo fogo de sua imaginação
Houve um tempo em que o homem
Não desacreditava em Deus, pois Deus
Sequer ainda existia, e havia noite e havia dia
E a oração ainda não fora escrita
Houve um tempo em que o homem
Enquanto homem era ainda criança
E a mentira era uma cor que não havia
Na menina, ainda virgem, dos seus olhos
Houve um tempo em que o homem
Só conhecia o ritmo do seu coração
E sabia ver quando a vida lhe abria caminhos
E sabia ouvir quando o silêncio lhe fechava outros
Houve um tempo em que o homem
Só fazia sentir, sentindo muito e tanto
Que escavando, neste homem, em seu fundo
Um outro mundo de sonhos não haveria
Houve um tempo em que o homem
Mesmo em guerra era inda humano
E mesmo insano e em desespero
Mas ainda verdadeiro, nu de máscaras
Houve um tempo em que o homem
Se permitia a tão somente ser
E não fingia, dissimulava, ou se escondia
O tempo desse homem é a nostalgia
Do nosso tempo, que estamos sempre a perder