Natureza Morta
É tão tarde, que mesmo o céu
Já encerrou suas portas
E as palavras se calaram diante
Da eternidade do silêncio que cultivo
Em campos áridos, lugares ermos
É tão tarde, que mesmo as estrelas
Já apagaram as suas luzes
E o universo é um salão abandonado
Onde se acumula a poeira das eras
Nada pode ser mais desolador
Que a eternidade do pó
É tão tarde, que já nem há mais Tempo
Tudo está suspenso na ausência da memória
Porque também a História já não há
Pois não há homem, não há deus, nem há lugar
Para que tarde ainda seja
Nada deseja, nada comporta
O verso se acaba naturalmente
Pois é um poema que, somente
Pinta uma natureza morta