OS ESPELHOS SÃO PORTAIS?
Cheguei há pouco da rua,
Onde estive até bem pouco.
Altas horas.
Há um grito mudo na escura noite.
Não há luz apesar das lâmpadas.
Ninguém ouve o meu lamento.
Soluços secos me abafam a garganta.
As lágrimas secaram.
O coração, partido,
Bate em descompassado desespero.
Nada me consola,
Nem mesmo o copo, já vazio,
À espera que as minhas mãos trêmulas
O encham mais uma vez.
E o gelo, cadê o gelo?
Maldito gelo!
Desgraçado, como o eu de agora,
Virou água!
Miserável!
A madrugada avança penosamente,
Os minutos se arrastam.
O sono não vem.
Mas que sono?!
Faz tempo que ele foi substituído por um torpor
Um torpor entrecortado por sobressaltos na cama
E a causa são as doídas lembranças que me dilaceram
Já não me reconheço no espelho da cabeceira
Os espelhos são portais?
Quero ir embora!
Desaparecer num deles!