MEMÓRIAS DA NOITE
Anoitece lentamente ...
Da minha janela contemplo o movimento intenso do entardecer na rua.
Automóveis passam.
Vão e vem, transportando pessoas apressadas que buscam descanso e abrigo em seus lares.
E eu, aqui, na minha solidão, me vejo envolvido com mais força pela bruma, até então leve, das lembranças de nós dois, que os dias teimam em me trazer.
Nossos momentos, então, que a luz do dia, de algum jeito, conseguiu amenizar,
Começam a tomar forma cada vez mais nítida na minha memória.
Então, aos poucos,
Um desespero lancinante toma conta de mim.
Minha alma não se conforma com a tua partida.
Me dá vontade de correr até você, bater à tua porta, te abraçar e beijar mais intensamente do que fiz até hoje.
Saíste da minha vida quando eu te havia entregue tudo o que tinha:
O melhor de mim.
Sem maiores explicações.
Divagações apenas, conclusões muitas delas sem sentido ou superáveis.
Com a frieza de quem toma um simples copo d’água!
Escorreste entre os meus dedos e eu, mesmo entendendo não ter havido motivo suficiente,
Me culpo por isso.
Faltou maturidade?
A mim ou a ti?
Ou mesmo a nós dois?
Só sei que insisto numa verdade: te amei como nunca!
Me entreguei como nunca!
Mudei por você, por esse amor,
Tudo em nome de um futuro que disseste friamente que não tínhamos!
Quantas mulheres passaram pela minha vida!
Quantas me disseram, para o meu tolo e miserável orgulho, que qualquer uma iria me querer!
E eu, não só acreditei, como as desprezava ou descartava!
Agora, justo agora, o castigo que me dilacera o peito e me faz escrever vertendo lágrimas,
O castigo!
Aqui se faz, aqui se paga!
Diria um velho adágio ...
Procuro o consolo em outros braços, novos encontros.
Mas dessa vez não era só sexo ...
Era amor verdadeiro.
Nada nem ninguém se compara a você.
Me dói mais ainda saber que em breve serás de outro.
E que fracassei.
No momento em que mais precisava acertar.
Me culpo por isso!
Todos os dias,
Todas as horas,
Todos os minutos.