[Nós]
A gente fecha os olhos,
E se acostuma... Com a falta do que não teve.
Nos conformamos com a distância
A perder as lembranças...
A esquecer os rostos
Mesmo, os mais próximos.
Prendemos a nossa vida em nós invisíveis,
Começamos a sentir tudo sempre igual
Um eterno domingo monótono,
E quanto menos esforço, melhor.
A gente...
Acaba se adaptando.
Risca as datas do calendário,
É formal nos aniversários
E segue o protocolo da rotina,
Dia após dia, esperando
Não se machucar com as ironias.
Sonhamos acordados
Enquanto a televisão vive da nossa apatia.
Movimentamos o nosso corpo
Ao som de um barulho sem sentido.
Porque tudo faz parte
Do vazio que é construído lentamente
Dentro de nós.
As palavras não tem mais o mesmo efeito,
E a gente fica confortável com a agua morna
Por medo de passar frio ou calor,
Se sairmos da nossa própria casa.
A gente...
Vive no automático
Fala o programado
Sente, menos que o necessário.
E quando percebemos
A vida...
É um quadro confuso, abstrato.
Não gostamos das cores, que intimamente pintamos.
E escondemos a nossa própria obra em um armário,
Esperamos que ninguém perceba, os tons frios e cinzas.
Porque a gente...
A gente fecha os olhos.
Pablo Danielli
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