De viseira quebrada
De viseira quebrada
Caminhava direitinho,
Pés calçados, bem vestida,
tudo alinhado.
Subia e descia a ladeira direitinha,
Mamãe dizia: “pra todos aprovarem,
Menina da Ladeira”,
Usava viseira.
Um dia, a viseira quebrou
Porque tentei olhar um pouco
Mais e além,
Aí é que vi:
Ninguém aprovava,
Ninguém jamais aprovaria,
Podia vestir ouro,
Não tavam nem aí,
Eu era menina, de cor escura,
Lá da Ladeira, da Poleira,
Filha da Lavadeira,
Do zé do Mato.
Compreendi a inocência de mamãe,
De quem usava viseira a vida inteira
Mas quebrei a minha,
Pus os pés no descalços, no chão,
O cabelo pra cima,
Me desalinhei todinha,
Construí estilo,
E fui viver minha vida,
Que esse povo não manda em mim.
Marta Almeida: 17/09/2020