Ingratidão

Nem pé nem cabeça tinham direção naquele momento,

Tudo doía, tudo girava.

Nem certezas, nem sonhos, nem fracassos,

Nada animava, nada dava esperanças

A vida tinha levando-a até ali ou ela tinha procurado com seus próprios erros?

Não sabia dizer.

Agora não importava mais. Estava marcada para o resto da vida.

O que fazer quando se adquiri um sinal irremovível?

Nada, nem mudar, nem o bem que se faz, nada retira aquele sinal.

Seu coração cheio de bem, de preocupações motivando suas ações,

Ainda assim, visto como mal, porque estava marcada.

Sentia suas forças e fé esmorecerem. Não podia vencer aquela batalha

Nem mesmo ganhara as guerras.

Perdera tudo e estava sozinha como sempre

Quisera tanto, e ainda queria muitíssimo, não ser ela mesma,

Ser qualquer outra coisa, que não deixasse aquela marca repudiante em sim

Em vão tentara, mas não conseguira.

Agora, marcada como sempre e sozinha, depois de tanto chorar,

Porque chorava quase todas as noites desde criança,

Quase sempre fora dormir chorando e amanhecera triste,

Agora enxugou ela própria suas lágrimas, se obrigou a parar de chorar,

Escolheu ser feliz, entendendo que é uma questão de escolha e não de oportunidade,

E fez uma promessa para si própria: nunca mais deixaria aquela marca magoá-la,

Nunca mais nada nem ninguém arrancaria uma lágrima sequer sua por sua imperfeição.

Tomou todo esforço, coragem, boa vontade que usara até agora para tentar ajudar os outros

E direcionou para si própria,

Porque era ela quem precisava de ajuda, naquele momento,

Mais que os outros, até porque ela queria ajuda, os outros não.

Marta Almeida: 16/11/2019