Dilema

Como escrever poesia

ante as obrigações do dia-a-dia,

que nos vergastam com seus açoites

e se há também as obrigações das noites?

Como escrever poesia

se há que se ganhar o pão de cada dia,

com o essencial suor de cada rosto

e se há os gases, as dores e o desgosto?

Como escrever poesia

se se tem o trabalho que abençoa o dia,

os desejos de hoje, sempre e de outrora

e a dinâmica do passar das horas?

Como escrever poesia

se o cantar do galo anuncia o dia,

o despertador intermitente no horário

e a eterna defasagem do salário?

Como escrever poesia

se, a cada dia, é menos um dia,

se me aperta o sapato que calço

e a morte a espreita, no encalço?

Como escrever poesia

havendo a nostalgia do transcorrer dos dias,

mas se, somente ela me alivia,

como não escrever poesia?

https://polenepedras.blogspot.com/2019/10/poemas-publicados-0522019_31.html