Dilema
Como escrever poesia
ante as obrigações do dia-a-dia,
que nos vergastam com seus açoites
e se há também as obrigações das noites?
Como escrever poesia
se há que se ganhar o pão de cada dia,
com o essencial suor de cada rosto
e se há os gases, as dores e o desgosto?
Como escrever poesia
se se tem o trabalho que abençoa o dia,
os desejos de hoje, sempre e de outrora
e a dinâmica do passar das horas?
Como escrever poesia
se o cantar do galo anuncia o dia,
o despertador intermitente no horário
e a eterna defasagem do salário?
Como escrever poesia
se, a cada dia, é menos um dia,
se me aperta o sapato que calço
e a morte a espreita, no encalço?
Como escrever poesia
havendo a nostalgia do transcorrer dos dias,
mas se, somente ela me alivia,
como não escrever poesia?
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