De Quando Morri

Da primeira vez em que morri, vi meu povo chorar mentiras,

mas adivinhava-lhes as verdades dos pensamentos todos:

−Já vai tarde, filho de uma...

As mãos em rigidez insistiam gestos obscenos

que ao povo meu constrangia e, se persignavam,

as beatas mais lascivas e putas. Quando morri da primeira vez.

Sobre meu peito oco um cravo meio murcho

em cuja corola copularam besouros por mil vezes

gerando outras mil larvas.

Enterraram-me às pressas sob pilhas de papéis

e rostos de alívio de fim de expediente.

Mas, daí, a morte já não me cabia mais!

Desalojou-me.

https://polenepedras.blogspot.com/2019/10/poemas-publicados-0362019.html